O câncer na população geriátrica demanda uma atenção especial, visto que com o envelhecimento a toxicidade do tratamento pode ser maior e a qualidade de vida deve ser priorizada, pela menor capacidade de recuperação do organismo às agressões. Porém, também uma atenção especial deve ser dada ao cuidado de não se realizar um subtratamento somente baseado na idade biológica. Pacientes mais idosas podem ter tumores agressivos, cujo desfecho dependerá da correta avaliação de sua performance para receber o tratamento ideal.

O estudo RESPECT incluiu 275 pacientes com idade entre 70-80 anos com câncer de mama invasivo HER2 positivo, operadas e candidatas a tratamento adjuvante. As pacientes foram randomizadas para receber trastuzumabe em monoterapia ou trastuzumabe e quimioterapia. O desfecho primário foi a sobrevida livre de doença, sobrevida livre de recaída), eventos adversos, qualidade de vida e sobrevida média restrita pelo tempo. O desenho do estudo foi de não-inferioridade, onde se avaliou o valor relativo da monoterapia com trastuzumabe para pacientes idosas  com câncer de mama HER2 positivo.

A maioria das pacientes estava no EC I e II (somente 1,1% no EC IIIA). Em 3 anos, 89,5% das pacientes que receberam quimioterapia e trastuzumabe estavam sem progressão de doença, comparado a 93,8% no braço trastuzumabe isolado, diferença está não estatisticamente significativa (Figura 1 ). A sobrevida média restrita pelo tempo diferiu em -0,39 meses entre os braços. A sobrevida global em 3 anos foi de 97,2%no braço de trastuzumabe em monoterapia e 96,6% na combinação de trastuzumabe e quimioterapia, também sem diferença estatística (figura 2). Os efeitos adversos foram mais frequentes no grupo que recebeu quimioterapia, com diferença estatisticamente significativa entre eles, a saber: anorexia (7,4% v 44,3%; P < 0,0001), alopecia (2,2% v 71,7%; P < 0,0001) e eventos não hematológicos de grau 3/4 ( 11,9% versus 29,8% ; P = 0,0003 ). A qualidade de vida foi mais afetada no grupo quimioterapia nas análises de 2 meses e 1 ano do início do tratamento. Essas pacientes também foram avaliadas quanto à sua função cognitiva, através do teste Mini-Mental 1 e 3 meses após início do tratamento. Esta análise não detectou diferença na perda da função cognitiva entre os 2 grupos.

Com estes resultados, o objetivo de não inferioridade do trastuzumabe monoterapia não foi alcançado, mas considerando-se que a taxa de perda de sobrevida foi inferior a 1 mês, da maior toxicidade e impacto em qualidade de vida, esta abordagem de tratamento poderá ser considerada para pacientes idosas selecionadas.

Figura 1: Sobrevida livre de progressão- estudo RESPECT

Figura 2: Sobrevida global- estudo RESPECT